terça-feira, 21 de janeiro de 2014

22 de janeiro de 1905 - Domingo Sangrento de São Petersburgo




O Império Russo, desde as reformas de Alexandre II, vivia uma situação esquizofrênica na Europa, buscando ser uma potência que pudesse influir nos destinos do continente, mas ao mesmo tempo, ainda amarrada a convenções, abolidas há mais de duzentos anos no Ocidente. O Czar ainda era um autocrata, este sim, com poucos limites à sua vontade soberana, amparado numa igreja retrógrada e opressiva.
Tudo começou no mês de dezembro anterior, quando uma greve aconteceu na fábrica Putilov. Simpatizantes em outras partes da cidade aumentaram o número de grevistas para cerca de 80 mil trabalhadores.
Em 8 de janeiro, a cidade não tinha eletricidade ou jornais, em função da baderna e da instabilidade reinante nas ruas. Todas as áreas públicas foram declaradas fechadas. George Gapon, um padre ortodoxo russo que se interessava pelas condições vividas pelas classes trabalhadoras organizou uma procissão pacífica de trabalhadores até o Palácio de Inverno, para entregar uma petição ao czar solicitando melhores condições de vida, trabalho e salários.
A petição, escrita por Gapon, deixava claros os problemas e opiniões dos trabalhadores, e pedia por melhores condições de trabalho, salários justos, redução da jornada de trabalho para oito horas e condenava as horas extras que os donos das fábricas forçavam os trabalhadores a cumprir. Outras demandas incluíam o fim da Guerra Russo-japonesa e a introdução do sufrágio universal. Tropas foram dispostas ao redor do Palácio de Inverno e em outros lugares. O czar deixou a cidade no dia 21 de janeiro e foi para Czarkoe Selo.
No domingo, 22 de janeiro de 1905, trabalhadores em greve e suas famílias se reuniram em seis pontos na cidade de São Petersburgo, a capital do Império Russo. Organizados e liderados pelo padre ortodoxo russo George Gapon este liderou as marchas do dia segurando ícones religiosos e cantando hinos e canções patrióticas (particularmente Deus Salve o Czar).


Foi então que uma multidão de "mais de três mil" pessoas prosseguiu sem interferência da polícia em direção ao Palácio de Inverno, residência oficial do czar.
Os soldados acantonados do exército perto do palácio lançaram tiros de advertência e, em seguida, dispararam diretamente contra a multidão para dispersá-la. Gapon foi alvo de tiros perto do Arco do Triunfo de Narva.
Cerca de quarenta pessoas ao redor dele foram mortas, no entanto, ele não ficou ferido. Embora o czar não estivesse no Palácio de Inverno ou mesmo na cidade e não tivesse dado a ordem para as tropas atirarem, ele recebeu toda a culpa pelas mortes, resultando em uma onda de amargura do povo russo contra o czar e seu regime autocrático.
Calcula-se que no total, mesmo o número de mortos sendo incerto, foram considerados pelas autoridades da época que restaram 96 mortos e 333 feridos, já fontes anti-governo afirmaram que os tiros mataram mais de quatro mil pessoas, estimativas moderadas ainda estipulam uma média de cerca de mil mortos e feridos, tanto pelos tiros quanto pisoteados pela população durante o pânico.
Outra fonte observa que a estimativa oficial de mortos era de 130 pessoas. O czar Nicolau II descreveu o dia como "doloroso e triste". Conforme relatos, a desordem civil e saques explodiram por toda a cidade. A marcha de Gapon foi aniquilada naquele dia e ele rapidamente deixou a Rússia. De acordo com uma versão, ao voltar para a Rússia em outubro, Gapon é assassinado por ordem da Organização de Combate do Partido Social-Revolucionário depois que ele revelou ao seu amigo Pinhas Rutenberg que estava trabalhando para a Okhrana, a polícia secreta.
Nascia alí o sentimento que explodiria em outubro de 1917, destruindo completamente o Império Russo.


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