terça-feira, 21 de janeiro de 2014

21 de janeiro de 1793 - O Rei Luis XVI é guilhotinado






As Revoluções se caracterizam pela destruição, pela ruína, pelo ódio e pela luta fratricida, e seu resultado não é um avanço, mas o retrocesso. A Revolução derrubou uma monarquia brilhante, luxuosa e que obedecia, bem ou mal, aos direitos que regulavam o Poder do Estado, por uma ditadura sanguinária, de homens vis, e depois, outra ditadura militar, liderada por um pequeno corso, que devastou a França e a Europa em infindáveis guerras.
Neste dia, o Rei Luís XVI acorda às 5 horas da manhã, e tem em Cléry, seu camareiro, um fiel assistente que o ajuda em sua toalete. Luís XVI encontra-se em seguida com o abade Henri Essex Edgeworth de Firmont, confessa-se, assiste a sua última missa e recebe a comunhão, como bom católico, mesmo no momento em que poderia renegar sua tradição.


Tendo sido aconselhado pelo abade, Luís XVI evita um último encontro de adeus com sua família. Os guardas, temendo um rapto do rei, entram e saem incessantemente. Às 7h, Luís XVI confia suas últimas vontades ao abade, transmite seu selo para o delfim, que a partir daquele dia é o Rei titular Luis XVII (le roi est mort, vive le roi)  e sua aliança para a rainha Maria Antonieta. Após receber a bênção do abade, Luís XVI junta-se a Antoine Joseph Santerre, que comanda a guarda, sem qualquer ato de soberba ou de indignação.
Dia de inverno na França, sobre Paris há um nevoeiro espesso, que envolve o dia glacial. Dentro do primeiro pátio, Luís XVI volta-se para a Torre do Templo, onde foram colocados os demais membros da família real, mas os seus não aparecem às janelas. No segundo pátio, uma carruagem verde espera. Luís XVI toma seu lugar nela com o abade e mais duas pessoas da milícia instalam-se à sua frente. A carruagem deixa o Templo por volta das 9h. Ela vira à direita pela Rua do Templo, para atingir os grandes Boulevards.
Neste momento um cortejo é formado com a carruagem, precedido por tambores e escoltado por uma tropa de cavaleiros com sabres desfraldados. O cortejo avança entre diversas fileiras de guardas nacionais e de sans-culottes.
A multidão é numerosa e dividida, a Revolução republicana e democrática, não houve o clamor da rua, na medida em que uma imensa maioria opõe-se à execução, mas os homens armados e guardas nacionais estão de prontidão para fazer valer a vontade dos assassinos do Rei, dos homens que têm outros objetivos. O primo do Rei, Filipe Egalité, que mais tarde, por sua atitude torpe, na defesa da exeção do Rei, terá um descendente como Rei de França, o burguês Luis Filipe I de Bourbon-Órleans, assiste prasenteiro.
Nas proximidades da Rua de Cléry, o Barão de Batz, apoio da família real que havia financiado a Fuga de Varennes, convocou 300 monarquistas para fazer evadir o rei. O rei deveria ser escondido em uma casa pertencente ao Conde de Marsan, na Rua de Cléry. O Barão de Batz avança aos gritos de :


« Comigo, meus amigos, para salvar o rei ! ».

Porém, seus companheiros haviam sido denunciados e apenas alguns puderam comparecer. Três foram mortos mas o Barão de Batz pode escapar. Dentro da carruagem, o Rei Luís XVI não percebeu nada. Sobre o breviário do abade, ele lia a prece dos agonizantes. O cortejo, conduzido por Santerre, prosseguiu seu caminho pelos boulevards e pela Rua da Revolução. Ele desemboca às 10h sobre a Praça da Concórdia e para aos pés do cadafalso instalado em frente ao Palácio das Tulherias, última residência real, entre o pedestal da estátua removida de Luís XV e a parte baixa dos Champs-Élysées. O local é rodeado por canhões em bateria e uma profusão de espadas e baionetas.
Após o ato bárbaro de matar o Rei, seu corpo é abandonado no Cemitério da Madeleine, onde hoje há uma capela, e nesta o altar, está onde foi encontrado o corpo do Rei. Em Paris, é local de peregrinação obrigatória, para a percepção da estupidez humana, de saber como o que chamamos de povo é manipulado para interesses que muitas vezes sequer tem condições de divisar.
Sanson, o Carrasco, dá a dimensão da dignidade deste Rei:

Chegado ao pé da guilhotina, Luís XVI considerou um instante os instrumentos de seu suplício e perguntou a Sanson se os tambores cessariam de bater. Ele se aproximou para falar. Foi dito aos carrascos que fizessem seu dever. Enquanto lhe colocavam as cilhas, ele gritou : "Povo, eu morro inocente !". Em seguida, virando-se para os carrascos, Luís XVI declara : "Senhores, sou inocente de tudo o que me inculpam. Espero que meu sangue possa cimentar a felicidade dos Franceses". O cutelo caiu. Eram 10 horas e 22 minutos. Um dos assistentes de Sanson apresentou a cabeça de Luís XVI para o povo, enquanto elevava-se um grande grito de : "Viva a Nação ! Viva a República !" e que ressoava uma salva de artilharia que chegou até às orelhas da família real encarcerada.

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