Em 20 de janeiro de
1936 morria o Rei Jorge V, sucedia-o no trono do Reino Unido da Grã-Bretanha e
Irlanda do Norte seu filho mais velho, Eduardo VIII, protagonista de uma crise
dinástica e política no reino inglês em pleno período de agitação pouco antes
da Segunda Guerra Mundial.
Eduardo VIII depois
de uma vida de playboy acabou se apaixonando por uma mulher casada, já em seu
segundo matrimônio, americana e sem nenhum título nobiliárquico, Wallis
Simpson. Tal relação encontraria imensas dificuldades para ser aceita pelo
staff da Igreja Anglicana, na medida em que o rei inglês é também o chefe da
Igreja e o casamento morganático om uma divorciada criaram empecilhos à união
bem como as tendências filo-germânicas do monarca num período entre guerras
marcado pela ascensão do fascismo na Europa.
Foi
em 16 de novembro de 1936, que o Rei Eduardo VIII convoca o Primeiro-Ministro Stanley
Baldwin ao Palácio de Buckingham e expressa o seu desejo de se casar com Wallis
Simpson tão logo ela estivesse livre para casar-se novamente, pois procurava estabelecer
um acordo com o seu marido para que o divórcio lhe fosse dado com a
responsabilização deste.
O
Primeiro-Ministro Baldwin informou-lhe que seus súditos considerariam o
casamento moralmente inaceitável, principalmente porque uma nova união após o
divórcio era rejeitada pela Igreja Anglicana e o povo não toleraria Wallis como
rainha. Argumentou ainda que como rei, Eduardo ocupava o posto de Chefe Supremo
da Igreja Anglicana e o clero esperava que ele apoiasse seus ensinamentos.
Eduardo
VIII propôs uma solução alternativa com um casamento morganático, no qual ele
permaneceria rei, mas Wallis não se tornaria rainha. Em vez disso, ela
desfrutaria de algum título menor e os filhos que pudessem ter não herdariam o
trono. Isso também foi rejeitado pelo Gabinete Britânico, bem como pelos
governos dos Domínios, cujas opiniões foram solicitadas nos termos do Estatuto
de Westminster de 1931, que previa, em parte, que "qualquer alteração na
lei no tocante à Sucessão do Trono, ao Tratamento Real e Títulos deverá
requerer o consentimento dos parlamentos de todos os domínios, bem como o do Parlamento
do Reino Unido ".
Os
Primeiro-Ministros da Austrália, Canadá e África do Sul deixaram clara sua
oposição ao casamento do rei com uma divorciada; o Primeiro-Ministro irlandês
manifestou indiferença e distanciamento, enquanto o Primeiro-Ministro da Nova
Zelândia, sem nunca ter ouvido falar anteriormente de Wallis Simpson, declarou
que apoiaria a decisão de Londres. Confrontado com essa oposição, Eduardo
inicialmente alegou que "não havia muitas pessoas na Austrália" e que
a opinião deles não importava.
Instalada
a crise política e dinástica, o rei numa posição de desafio informou a Baldwin
que abdicaria se não pudesse se casar com Simpson.
Assim,
não restou ao Primeiro-Ministro, senão apresentar três opções a Eduardo VIII:
desistir da ideia do casamento, casar-se contra a vontade de seus ministros ou
abdicar. Estava claro que Eduardo não estava preparado para desistir de Wallis
Simpson, mas ele sabia que casar-se contra o conselho de seus ministros levaria
à demissão do gabinete, provocando uma crise constitucional. Ele escolheu a
abdicar.
Em
10 de dezembro de 1936, em Fort Belvedere, Eduardo assinou o
"Instrumento de Abdicação" na presença de seus irmãos mais novos:
príncipe Alberto, Duque de Iorque, o próximo na linha de sucessão ao trono, o
príncipe Henrique, Duque de Gloucester e o príncipe Jorge, Duque de Kent. No
dia seguinte, seu último ato como rei foi dar o consentimento real à Lei da
Declaração de Abdicação de Sua Majestade de 1936. Conforme exigido pelo
Estatuto de Westminster, todos os Domínios consentiram com a abdicação, embora
o Estado Livre da Irlanda só tenha dado concordância em 12 de dezembro, com a
aprovação da Lei das Relações Externas, que excluía de sua constituição
qualquer menção à Coroa.
Na
noite de 11 de dezembro de 1936, Eduardo, agora novamente príncipe, fez um
pronunciamento à nação e ao império, explicando sua decisão de abdicar. Nessa
transmissão, ele diria a famosa frase:
"Eu
achei impossível carregar o pesado fardo da responsabilidade e cumprir meus
deveres como rei, como eu gostaria de fazer, sem a ajuda e o apoio da mulher
que eu amo".
Terminada
a transmissão, o então Príncipe Eduardo partiu para a Áustria, mas não se
juntou à Wallis Simpson até que o divórcio dela fosse ratificado, alguns meses
mais tarde. Seu irmão, o príncipe Alberto, subiu ao trono como Rei Jorge VI e
sua filha mais velha, a princesa Isabel, tornou-se a primeira na linha de
sucessão, como herdeira presuntiva e Princesa de Gales.
Como
novo rei, Jorge VI concede ao irmão mais velho o título de Duque de
Windsor. No dia 3 de junho de 1937, Eduardo casa-se com Wallis no
Castelo de Cande, no Vale do Loire, em França.
Nos
dois anos seguintes, o casal visitaria vários países, entre eles a Alemanha,
sendo homenageado por funcionários nazistas e tendo um encontro particular
com Adolf Hitler. Depois da eclosão da Segunda Guerra, o duque aceita um posto
como elo de ligação com a França. Em junho de 1940, a França é ocupada pela
Alemanha e o casal muda para a Espanha. Durante esse período, os
alemães elaboram um plano para sequestrar Eduardo com a intenção de fazê-lo
voltar ao trono da Inglaterra como rei. O Rei Jorge VI, a exemplo do seu novo Primeiro-Ministro,
Winston Churchill, opõe-se a qualquer acordo de paz com a Alemanha.
Sem
saber do complot mas consciente das
simpatias pró-nazis de Eduardo, Churchill oferece-lhe o governo das Bahamas. O
duque e a duquesa embarcam em Lisboa no dia 1º de agosto de 1940, escapando por
pouco a um esquadrão nazi pronto para raptá-los.
Em
1945, o casal retorna a Paris. Eduardo faz poucas visitas à Inglaterra, como
para assistir aos funerais do seu irmão, em 1952, e o da sua mãe, a rainha
Maria, em 1953. Eduardo morre em Paris em 1972 e é enterrado no Castelo de
Windsor. Em 1986, morre Wallis, e o seu corpo é enterrado ao lado do marido.
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