Neste
domingo de 2013, comemoramos 431 anos da instituição do novo
calendário no Ocidente. Muitos não se dão conta que o calendário
é uma convenção, que hoje poderia ser qualquer dia, e dia nenhum,
que a semana poderia ter 6, 10, 8 ou até 7 dias, porque o calendário
é a expressão mais legítima de uma compreensão histórica e
social da medida do tempo. No dia 24 de fevereiro de 1582, o Papa
Gregório XIII, demonstrando a vanguarda e a importância da Igreja
na construção do imaginário do Ocidente, publica a importante bula
“Inter gravissimas”, que reformou o calendário juliano
vigente por quinze séculos . O calendário gregoriano acabou por
firmar-se como a medida do tempo no Orbe, e apesar das hilárias
tentativas de substituí-lo, não há motivo para que se reforme a
medida do tempo estatuída pela Igreja Católica.
Para
que houvesse a correção dos erros acumulados pelas imperfeições
do calendário Juliano, definiu o Papa, por meio de sua bula, que
sucederia à quinta-feira, 4 de outubro de 1582, a sexta-feira 15 de
outubro, compensando desta forma a diferença acumulada ao longo de
séculos entre o calendário juliano e os fenômenos astronômicos.
As
nações católicas imediatamente adotaram o novo calendário, como
foi o caso da Espanha, Itália, Portugal e Polônia. Curioso mesmo, é
que apenas Portugal tenha retirado o nome pagão dos dias e
estabelecido o que conhecemos como o sistema de segunda a
sexta-feira. O Rei de França, Henrique III, último da Dinastia de
Valois-Angouleme, introduz por decreto o ajuste dos dias em dezembro
do mesmo ano. Já a Inglaterra governada por Elizabeth I, bem como
nos países protestantes, este só foi adotado a partir do século
XVIII, preferindo, segundo o astrônomo Johannes Kepler, "estar
em desacordo com o Sol a estar de acordo com o Papa".
A
mudança do calendário se mostrou necessidade imperiosa pelo
descompasso entre as estações e os dias, bem como, a preocupação
da Igreja com o período pascal que não mais coincidia com o
calendário em uso, daí que o Papa reuniu um grupo de astrônomos
para corrigir o calendário juliano, com o objetivo de regressar o
equinócio da primavera para o dia 21 de março e desfazer o erro de
10 dias existente à época. Após cinco anos de estudos, foi
promulgada a bula papal "Inter Gravissimas".
O
novo calendário estabeleceu que aos anos bissextos seria aplicada
fórmula distinta do calendário juliano, no qual existiam anos
bissextos de quatro em quatro anos. No segundo, segue-se essa regra,
mas acrescenta-se mais duas: 1) os anos divisíveis por 100 e cujo
resto é zero – 1700, 1800, 1900 – não são bissextos; 2) mas os
anos divisíveis por 400 o serão, como foram 1600 e 2000.
O
calendário substituído, conhecido como calendário juliano
permanece em uso nos países cristãos ortodoxos, como a Rússia.
Adotado em 46 a.C. pelo imperador Júlio César, ele modificava o
calendário romano, que tinha dez meses. Dois meses, Unodecembris
e Duocembris
foram adicionados ao final daquele ano, deslocando assim Januarius
e Februarius
para o
início do ano de 45 a.C. de modo que Martius,
que
era a marcação do Equinócio,
deixou
de ser o primeiro mês do ano.
Os
dias dos meses foram fixados numa sequência de 31, 30, 31, 30 dias
rigorosamente, de Januarius
a Decembris,
à exceção de Februarius,
que ficou com 29 dias e que, a cada três anos, teria 30 dias. Com
estas mudanças, o calendário anual passou a ter 12 meses, que
somavam 365 dias.
Gregório
XIII
Nascido
Ugo Bouncampagno em
Bologna, Itália, em 7 de janeiro de 1502, foi eleito Papa aos 70
anos em 13 de maio de 1572 e faleceu como Servo dos Servos de Deus em
10 de abril de 1585. Fruto do
renascimento italiano, um dos Papas atingidos pela Reforma
protestante do início do século XVI, destacou-se pelas preocupações
científicas, e principalmente astronômicas, pelo que, foi o
responsável pela reforma do Calendário Juliano, que vigia já a
mais de quinze séculos.
Vivendo
a efervecência do conhecimento do Direito Canônico da Itália
renascentista, estudou e lecionou Direito na Universidade de Bologna.
Trazido à cúria pelo Papa Paulo III, quando da convocação do
Concílio de Trento que trará à Igreja a perspectiva da
Contra-Reforma, será criado Cardeal pelo Papa Pio IV e em 1572
sucederá na Sé Apostólica ao Papa Pio V como o 226º Papa.
Fervoroso
contrarreformista fez com que dispendesse vultosos recursos na
tentativa de reconverter a Inglaterra, o que levou ao
descontentamento da intelligentzia
italiana,
ao descontentamento e a turbulências que marcaram o final de seu
papado, que teve imenso brilho intelectual e jurisprudencial.
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