terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

24 de fevereiro de 1582 – Bula Inter gravissimas Papa Gregório XIII




Neste domingo de 2013, comemoramos 431 anos da instituição do novo calendário no Ocidente. Muitos não se dão conta que o calendário é uma convenção, que hoje poderia ser qualquer dia, e dia nenhum, que a semana poderia ter 6, 10, 8 ou até 7 dias, porque o calendário é a expressão mais legítima de uma compreensão histórica e social da medida do tempo. No dia 24 de fevereiro de 1582, o Papa Gregório XIII, demonstrando a vanguarda e a importância da Igreja na construção do imaginário do Ocidente, publica a importante bula “Inter gravissimas”, que reformou o calendário juliano vigente por quinze séculos . O calendário gregoriano acabou por firmar-se como a medida do tempo no Orbe, e apesar das hilárias tentativas de substituí-lo, não há motivo para que se reforme a medida do tempo estatuída pela Igreja Católica.

Para que houvesse a correção dos erros acumulados pelas imperfeições do calendário Juliano, definiu o Papa, por meio de sua bula, que sucederia à quinta-feira, 4 de outubro de 1582, a sexta-feira 15 de outubro, compensando desta forma a diferença acumulada ao longo de séculos entre o calendário juliano e os fenômenos astronômicos.

As nações católicas imediatamente adotaram o novo calendário, como foi o caso da Espanha, Itália, Portugal e Polônia. Curioso mesmo, é que apenas Portugal tenha retirado o nome pagão dos dias e estabelecido o que conhecemos como o sistema de segunda a sexta-feira. O Rei de França, Henrique III, último da Dinastia de Valois-Angouleme, introduz por decreto o ajuste dos dias em dezembro do mesmo ano. Já a Inglaterra governada por Elizabeth I, bem como nos países protestantes, este só foi adotado a partir do século XVIII, preferindo, segundo o astrônomo Johannes Kepler, "estar em desacordo com o Sol a estar de acordo com o Papa".

A mudança do calendário se mostrou necessidade imperiosa pelo descompasso entre as estações e os dias, bem como, a preocupação da Igreja com o período pascal que não mais coincidia com o calendário em uso, daí que o Papa reuniu um grupo de astrônomos para corrigir o calendário juliano, com o objetivo de regressar o equinócio da primavera para o dia 21 de março e desfazer o erro de 10 dias existente à época. Após cinco anos de estudos, foi promulgada a bula papal "Inter Gravissimas".

O novo calendário estabeleceu que aos anos bissextos seria aplicada fórmula distinta do calendário juliano, no qual existiam anos bissextos de quatro em quatro anos. No segundo, segue-se essa regra, mas acrescenta-se mais duas: 1) os anos divisíveis por 100 e cujo resto é zero – 1700, 1800, 1900 – não são bissextos; 2) mas os anos divisíveis por 400 o serão, como foram 1600 e 2000.

O calendário substituído, conhecido como calendário juliano permanece em uso nos países cristãos ortodoxos, como a Rússia. Adotado em 46 a.C. pelo imperador Júlio César, ele modificava o calendário romano, que tinha dez meses. Dois meses, Unodecembris e Duocembris foram adicionados ao final daquele ano, deslocando assim Januarius e Februarius para o início do ano de 45 a.C. de modo que Martius, que era a marcação do Equinócio, deixou de ser o primeiro mês do ano.

Os dias dos meses foram fixados numa sequência de 31, 30, 31, 30 dias rigorosamente, de Januarius a Decembris, à exceção de Februarius, que ficou com 29 dias e que, a cada três anos, teria 30 dias. Com estas mudanças, o calendário anual passou a ter 12 meses, que somavam 365 dias.

 


Gregório XIII


Nascido Ugo Bouncampagno em Bologna, Itália, em 7 de janeiro de 1502, foi eleito Papa aos 70 anos em 13 de maio de 1572 e faleceu como Servo dos Servos de Deus em 10 de abril de 1585. Fruto do renascimento italiano, um dos Papas atingidos pela Reforma protestante do início do século XVI, destacou-se pelas preocupações científicas, e principalmente astronômicas, pelo que, foi o responsável pela reforma do Calendário Juliano, que vigia já a mais de quinze séculos.

Vivendo a efervecência do conhecimento do Direito Canônico da Itália renascentista, estudou e lecionou Direito na Universidade de Bologna. Trazido à cúria pelo Papa Paulo III, quando da convocação do Concílio de Trento que trará à Igreja a perspectiva da Contra-Reforma, será criado Cardeal pelo Papa Pio IV e em 1572 sucederá na Sé Apostólica ao Papa Pio V como o 226º Papa.

Fervoroso contrarreformista fez com que dispendesse vultosos recursos na tentativa de reconverter a Inglaterra, o que levou ao descontentamento da intelligentzia italiana, ao descontentamento e a turbulências que marcaram o final de seu papado, que teve imenso brilho intelectual e jurisprudencial.



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