Talvez uma das
batalhas que mais definem a construção da Europa como uma unidade, é no
princípio de 1066, quando o rei inglês Eduardo o Confessor morre sem
descendência direta, que surge a oportunidade da expansão do ducado da Normandia
para as ilhas britânicas. O herdeiro mais próximo na linhagem era o primo, de
doze anos, Edgar Atheling (neto de Edmundo II) que vivera a maior parte da sua
vida no exílio na Hungria. No entanto a assembleia dos nobres proprietários
escolheu Haroldo II, Conde de Wessex e de East Anglia, porque acreditavam que
este estaria preparado para enfrentar uma iminente invasão normanda, na medida
em que estes homens já haviam conseguido estabelecer-se na costa norte da atual
França. Inicialmente, mostrou-se verdadeira a crença dos nobres, e em 25 de
Setembro, Haroldo II derrotou o exército de Harald Hardrada da Noruega na
batalha de Stamford Bridge.
Com a importante
vitória, a ameaça parecia ter sido afastada, mas apenas três dias depois, em 28
de Setembro de 1066, Guilherme, Duque da Normandia, desembarca no sul da Grã Bretanha.
Com um exército de cerca de 7000 homens e uma frota que contava cerca de 600
navios, pode desembarcar sem qualquer oposição no sul da ilha, já que os saxões
acreditavam que a ameaça havia sido afastada. Seguiam com Guilherme muitos
nobres normandos, flandrinos e bretões a quem haviam sido feitas promessas de
títulos e terras em caso de vitória. Guilherme organizou um acampamento
fortificado perto de Hastings, protegido na retaguarda por uma floresta e tendo
à sua frente um vertente glaciar.
Informado da
invasão normanda, Haroldo II determina a seus homens uma marcha forçada para
Sul, durante a qual convoca e recruta uma massa de soldados. É notório que o
exército inglês conseguiu o feito de cobrir uma distância de cerca de 400 km em
menos de quinze dias, de marcha a pé, já em pleno outono, num período muito
mais frio que o atual. Os soldados eram principalmente veteranos da batalha de
Stamford Bridge, que foram armados com machados dinamarqueses e escudos que se
caracterizavam pelo seu enorme peso, tal esforço fez com que as tropas de
Haroldo II chegassem exaustas ao sítio onde se encontrava Guilherme.
Há
aproximadamente 947 anos atrás, numa manhã de 14 de Outubro de 1066, o duque
Guilherme da Normandia dispôs seu exército para a batalha. A frente foi
organizada de forma tipicamente medieval em três grupos, organizados por
normandos no centro, flandrinos e bretões nos flancos, que incluíam unidades de
infantaria, cavalaria e de arqueiros.
Estes últimos
foram colocados na vanguarda para o começo da batalha. As disposições de
Haroldo II de Inglaterra são desconhecidas, mas devem ter sido semelhantes, uma
vez que a escola militar e o tamanho do exército eram os mesmos. A batalha
começou com uma chuva de setas dos arqueiros normandos, que não foi muito
eficaz. Depois de algumas escaramuças, a infantaria e cavalaria normandas avançaram
lideradas por Guilherme em pessoa, assistido pelo meio-irmão, o Bispo Odo de
Bayeux. Este ataque pelo centro foi repelido sem grande dificuldade pela
infantaria inglesa, protegida pelos seus longos machados e uma muralha de
escudos. Porém, Guilherme mandou avançar o seu flanco esquerdo que era
constituído principalmente por homens inexperientes e mal armados. Os bretões
não estavam à altura dos ingleses e depressa o flanco esquerdo de Guilherme
desapareceu à custa dos ingleses e da fuga dos seus próprios homens.
Com este sucesso
parcial, o flanco direito dos ingleses precipita-se a lançar um ataque contra
os bretões em fuga. Sem o suporte do resto do exército e a proteção da muralha
de escudos, os seus membros são apanhados por uma carga de cavalaria normanda e
massacrados. Este episódio da batalha marcou o curso do dia e as subsequentes ações
normandas.
Percebendo que o
inimigo rapidamente se organizou num contra-ataque suicida, os normandos
começaram a orquestrar fugas, de forma a atrair os ingleses para a morte, numa
tática já usada em guerras no continente. A cada novo embate, fuga e emboscada,
a muralha de escudos ingleses tornava-se mais frágil e ao fim do dia era já
bastante permeável. Preocupado com a fraqueza da sua própria posição, Guilherme
manda avançar de novo os arqueiros, numa última tentativa para resolver a
batalha antes de a noite cair. Desta vez os arqueiros foram bastante mais
eficientes e provocaram sérias baixas na linha inglesa. Nesta altura, a
cavalaria normanda lança o último ataque. No confronto que se seguiu, o rei
Haroldo II de Inglaterra foi morto por uma flecha no olho esquerdo, lançando o
caos no seu exército. Em breve a barreira de escudos desmoronou, assim como a
resistência inglesa.
Terminada a
batalha com uma vitória normanda, ao cair da noite de 14 de Outubro, restou no
campo que Haroldo II estava morto e com ele, todas as esperanças de resistência
à invasão normanda. A assembleia de nobres ingleses nomeou Edgar Atheling rei,
mas este foi forçado a abdicar poucas semanas depois para o Duque da Normandia.
Guilherme foi coroado rei de Inglaterra no dia de Natal de 1066, na Abadia de
Westminster, iniciando a dinastia normanda, ficando conhecido na história como
Guilherme o Conquistador, e sendo o líder do último exército invasor da
Inglaterra. Após ele, ninguém mais conseguiria invadir a ilha e conquistar o
reino inglês.
Para comemorar a
vitória fi construída uma abadia no local da batalha de Hastings e uma lápide
assinala o local da morte de Haroldo II, o último rei anglo-saxão de
Inglaterra. Os eventos do dia encontram-se retratados na tapeçaria de Bayeux.